O ponto de partida localiza-se na Itália de meados da década de 60. Em Roma, uma família abençoada pela alegria da juventude dos seus filhos vive uma época aparentemente próspera. Matteo e Nicola são irmãos e ambos frequentam a universidade. Serão estes porventura os anos mais doces das suas vidas... e é sobretudo sobre elas que este filme se desenrola.
Apesar da presença de outras vidas, que vão desde os pais à irmã mais nova, desde os dois amigos de juventude às pessoas que se envolvem sentimentalmente com eles, é verdadeiramente sobre os dois irmãos que se centra a narrativa. E, em 1966, quando tudo se inicia, Matteo e Nicola separam-se, numa estação de comboio. Aquele dia marcará o abrir de um fosso que os seguirá ao longo das suas vidas. Não mais lhes será possível a aproximação que se adivinha ter marcado os anos a que não assistimos no filme.
Nicola palmilhará a Europa, e viverá na liberal e exótica Noruega. Depois, perante a catástofore das inundações de Bolonha, regressará. No cenário de devastação reencontrará Matteo que entretanto se havia alistado no Exército. Já então se nota a existência de duas margens opostas em que os irmãos se posicionaram: Nicola está com os liberais, uma juventude de esquerda vagamente classificada de intelectualista, e a sua vida imediata será marcada pelo ambiente correspodente; Nicola escolheu a via conservadora, procurou no Exército a ordem e a harmonia das regras definidas que perseguirá ao longo dos anos, ao ingressar na polícia de choque, e depois, ao seguir a carreira no corpo policial.
Estes são apenas os primeiros acordes de uma longa sinfonia que nos leva a viajar pelo tempo e espaço. Com a Itália como pano de fundo, partimos do longíquo ano de 1966 e apenas nos deteremos, seis horas depois, já no século XXI. Para trás ficam histórias de vidas cruzadas, não só as dos nossos dois amigos mas as de tantas e tantas pessoas que de uma forma ou de outra entraram nos seus mundos.
Trata-se portanto de um filme de época, mas com uma ambição enorme. Meter tantas pessoas e toda a sua evolução no decorrer de quarenta anos num filme de seis hora deve ter sido um desafio considerável. Mas o resultado, esse, foi claramente compensador. A eficiência com que o efeito mágico do envelhecimento actua sobre os protagonismos é chocante. O peso dos anos, das responsabilidades acrescidas e das intempéries da vida estão ali, identificam-se e a todos farão lembrar as suas próprias vidas e das que os rodeiam. Em vez de Nicola e Matteo, dos seus amigos e familiares, poderiam bem ser as pessoas importantes para cada um dos espectadores. Porque aqueles são cidadãos banais, com a sua individualidade, é certo, mas mesmo assim tão vulgares como qualquer outra pessoa que imaginemos na Roma da segunda metade do século XX.
Se em alguma coisa o filme falhou foi na caracterização pictórica da Itália. Se a vida dos personagens ao longo destes quarenta anos preenche por completo o filme, talvez toda essa intensidade individual tenha retirado o espaço necessário a uma imagem igualmente bem conseguida da realidade colectiva. À medida que vamos vendo o filme, entramos na pela destes personagens. Somos adoptados por aquela família. Pensamos em cada um deles como pessoas e não como meras figuras de um filme. Mas tudo isto não permite que o espaço envolvente, a Itália, ganhe o seu espaço na película. O levantamento estudantil e as inundações de Bolonha, as Brigadas Vermelhas e o assassinato do juiz Falcone... são eventos mencionados, mas nunca passam de meros intrusos na trama cerrada em redor de pessoas bem “reais” e onde não há lugar para uma fotografia de conjunto
Seja como for este filme, caso não tivesse passado a lado do grande público, teria potencial para se tornal numa marca geracional. Era eu gaiato e ouvia os ecos da emoção provocada por um outro filme que em certa medida se assemelha com este A Melhor Juventude: tratava-se da película francesa Uns e Outros. Gostaria que o filme que hoje abordamos tivesse obtido um reconhecimento semelhante junto do público, porque tal seria mais do que merecido. É um grande filme, pautado por interpretações magistrais, tornando-se num documento único sobre a vida de uma geração inteira, na qual não só os italianos que hoje contam cinquenta e tais anos se poderão rever, como todos os europeus filhos dessa época feita de convulsões e mudança. Digo-o com entusiasmo e sem ponta de exagero: este é um dos filmes da minha vida, e, tentando não perder a dignidade, imploro-vos que não o percam, pois se isso vier a suceder, nunca saberão do que na realidade abdicaram.
Ficha Técnica
Titulo: A Melhor Juventude
Título Original: La Meglio Gioventú
Região: 2 - Portugal
Duração: 352
Ano: 2003
Realizador: Marco Tullio Giordana
Editora: Atalanta Filmes
Actores: Luigi Lo Cascio, Alessio Boni, Adriana Asti, Fabrizio Gifuni, Maya Sansa, Jasmine Trinca
Está na minha lista de Prediléctos....aconselho a ver!Uma História de Quarenta anos resumida em 6horas!